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Xintoísmo


Antes de iniciarmos um estudo relativamente detalhado sobre o xintoísmo, antecipamos alguns conceitos importantes para entender o substrato da alma japonesa e de sua religião.O xintoísmo é uma religião étnica, ou seja, é a religião de um único povo, no caso, o japonês, que se formou no interior deste e com ele cresceu, a ponto de povo e religião formarem uma só coisa com a cultura, a história e a mentalidade. Por essa qualidade, o xintoísmo não é uma religião proselitista, ou seja, não envia missionários para difundi-la entre outros povos; a única tentativa foi feita na Coréia durante o período de ocupação colonial no séc. VI.O xintoísmo não conhece divindades ou um deus, mas reconhece a existência dos kamis ou seres divinos, que podem se hospedar em tudo o que existe como árvores, rios, montes, etc e, naturalmente, nos homens, em particular, nos defuntos que foram pessoas importantes na vida do país, como os soldados mortos nas guerras, os heróis nacionais, os antepassados e, sobretudo, os imperadores.


Um portal que indica presença divina

O xintoísmo não tem fundadores mas foi se formando com a espontaneidade do povo e reelaborado, mais tarde, pela vontade da classe imperial.O xintoísmo não tem dogmas, teologia, escritura sagrada (os livros da história do Japão são Cerimônia de bênção do mar considerados livros religiosos) nem um código moral. Esta se reduz a poucos preceitos fundamentais como não prestar atenção às coisas falsas, não ver e não falar falsamente.

No Japão, todas as religiões são chamadas de ensinamento ou kyo, assim Cristo-kyo, islã-kyo; somente o xintoísmo é definido caminho (to), por isso é xin-to, que quer dizer o caminho dos homens e dos seres divinos (kami). O estudioso C.D. Holtom define o xintoísmo como " a síntese peculiar de ritos e crenças praticadas pelos japoneses celebrando, dramatizando, interpretando e cultivando os principais valores da sua vida nacional".


Xinto: o caminho das divindades

A história do xintoísmo deve ser dividida em duas partes: antes e depois da chegada do budismo no século VI . O Japão, ao longo de sua história, foi invadido por vários povos que vieram pelo mar, do sul e do oeste, com suas culturas e que introduziram o cultivo do arroz e um tipo peculiar de construção de casas. Nas ilhas, os invasores encontraram uma população pacífica e foi fácil empurrar esses aborígenes para as montanhas do norte. Encontraram também uma natureza belíssima, um clima moderado, uma vegetação rica e colorida. Fundindo as próprias crenças e ritos com todos esses elementos, formaram uma religião alegre, cheia de gentilezas e amor pela natureza. Era o xinto primitivo. No século VI, o budismo foi introduzido no Japão, especialmente na corte imperial, mas somente depois de dois séculos, conseguiu difundir-se entre o povo e transformar-se até num sincretismo xinto-budista, no qual os kamis passaram a ser considerados como reencarnações de Buda. O xintoísmo sofreu durante os séculos a influência do budismo ( ritos e formas arquitetônicas dos templos, o conceito de oração, a teoria da reencarnação), do confucionismo ( o culto dos antepassados e o senso de pertença e de dever do indivíduo para com a sociedade) e do taoísmo ( crenças animistas e práticas mágicas).


Procissão em um templo xintoísta


No século passado, houve uma reação por parte do imperado Meiji que reformou o xinto, trazendo-o de volta à pureza primitiva. Nessa reforma, a preocupação não foi somente religiosa mas também política, visto que se desejava fortalecer o poder do imperador. Criou-se, assim, um xintoísmo de Estado com seus santuários (jinja), estritamente separado do xintoísmo popular e de seus lugares de cultos (miya). A partir dessa reforma, o imperador foi deificado e definido como quem "integra, coordena, harmoniza, sintetiza, recupera a unidade e tradição do povo japonês". Em outras palavras, ele exercia uma função divina que realizava em dois serviços: um para as divindades e outro para o povo. Religião e política fundiam-se numa coisa só. O imperador e o xinto O imperador, no xintoísmo, é a fonte da força que dá a vida eterna aos seus súditos, porque nele reside a vida eterna e a felicidade que lhe vêm diretamente da deusa do sol, Amaterasu O Mi Kami.


Para melhor entender essa adoração ao imperador, resumimos o que escrevia, em 1931, Katsuhiko Kakehi, professor universitário de Tóquio: "Cremos que a vontade divina seja expressa na vida da raça Yamato (a raça dos imperadores). Cremos, portanto, que a experiência nacional dos japoneses e a vontade dos deuses sejam uma única coisa. Acreditamos ainda que a raça nasceu como uma realização divina e, portanto, dotada de suas atribuições divinas". Nessa visão xintoísta, explicam-se alguns comportamentos do povo japonês como a absoluta intolerância, pelo menos nos anos passados, em relação às outras religiões não pertencentes à raça e o culto ao imperador, até o sacrifício da própria vida por parte dos soldados, numa dedicação não somente disciplinar mas, sobretudo, religiosa. Quando, em agosto de 1945, o Japão rendeu-se a exército americano e, pela primeira vez na história do país, o imperador falou ao povo pelo rádio, anunciando a rendição e sua renúncia aos atributos divinos, houve japoneses que se suicidaram e outros que, por respeito, cobriram com um pano os aparelhos, para manter a devida distância da voz sagrada do imperador. Com essa mensagem, encerrava-se, no Japão, não somente um período político mas também uma milenar época religiosa.

Conteúdo mítico-religioso do xintoísmo

Para o xintoísmo, tudo o que existe provém da ação recíproca de dois princípios: yo, o princípio ativo e in, o passivo. Assim, nasceram as primeiras sete gerações das divindades celestiais que ficaram inativas; o último casal dessas divindades, Izanagi (céu) e Izanama (terra), após ter mexido com sua lança na terra pantanosa, deixaram cair algumas gotas de lama que, ao se solidificar, criaram as duas ilhas Futaminoura que escolheram para própria habitação.


Deles, nasceram várias divindades entre as quais Amaterasu O Mi, a deusa do sol, que deu origem a Jimmu Tenno, o antepassado que deu origem à raça Yamato e fundou o império nipônico em 600 a.C. Além disso, o xinto admite uma miríade de kamis, ou espíritos, que moram em tudo o que existe, cada qual com seus mitos. Os kamis podem se manifestar sob formas antropomórficas, ou seja, com corpo e paixões humanas. O homem O xintoísmo não se preocupa com as questões que estão na base das outras religiões como os porquês da vida, o que é o homem, donde ele vem, para onde ele vai, etc. Mas, embora não se coloque esses questionamentos, o japonês tem três princípios que guiam sua vida no xinto:

  • O musubi é força misteriosa que está na origem de toda a criação e estabelece a relação entre homem e os kamis, entre o ser e o não ser. Indica a solidariedade e a harmonia que deve unir entre si os membros de um grupo ou uma família.

  • O makoto é atitude fundamental da pessoa quando, cheia de humildade e agradecimento, se encontra com os kamis e gera virtudes como o amor, a piedade, a lealdade e a fidelidade.

  • O tsunagari é princípio da continuidade e da relatividade. Como todos dependem dos pais para nascer e, por sua vez, geram outros descendentes, assim estão interligados e devem viver não apenas para si, mas doar as próprias energias, a cada momento, para encontrar a felicidade de viver. Isso significa que todos devem participar do processo histórico do país para conseguir a paz, o bem-estar, o progresso e a tolerância universal.


Cerimônia xintoísta

A ética xintoísta


No xintoísmo não existem mandamentos que dizem o que os homens devem ou não fazer. Nele, vale a autoconsciência, ou seja, o homem sabe, pela sua própria natureza, o que deve fazer. A vida, os instintos e tudo o que serve para conservá-la e torná-la mais bela são avaliados de maneira positiva. A morte e tudo o que a ela conduz - como doença, falta de sorte e infelicidade - são avaliados negativamente e devem ser evitados. Não existindo pecado, não deveria existir o sentimento de culpa ou de perdão, mas o xintoísmo recorre às purificações por um sentimento de deferência a quem é mais justo e forte como os kamis. Uma virtude particularmente cultivada no xintoísmo é o senso de honra, considerado até mesmo como um valor com fim em si mesmo. Depois vem a fidelidade, especialmente ao imperador e, em seguida, ao grupo a que se pertence, a obediência aos superiores, o sucesso nos estudos e na vida, o autocontrole e o não prejuízo ao próprio grupo e à sociedade. Xintoísmo e fé Para o xintoísta, tudo é divino até o homem e, portanto, a experiência religiosa é tomar consciência da própria natureza divina, contemplar essa essência em nós e nos outros.

Templo de Kasuga Taisha


O xintoísmo deu ao japonês um senso de familiaridade com o divino e de adoração de tudo aquilo que é superior ao homem: ele encontra o absoluto na atmosfera de uma paisagem, nas montanhas que são sagradas, nas ilhas, nas cachoeiras e nos rios. Essa alma profundamente religiosa conserva-se mesmo nestes tempos de sofisticadas tecnologias, sendo que as peregrinações aos numerosos santuários japoneses, construídos, geralmente, em lugares bonitos favorecem a contemplação. Existe também uma espécie de sacerdote, o kannushi, com atribuições específicas nos templos ou santuários onde exercem suas funções, ainda que todos os homens possam presidir o culto. Os santuários No passado, o número de templos era muito elevado; hoje, haveria mais de 100 mil. Os santuários, meta de peregrinações e local de celebração das festas anuais, são diferentes nas formas e na grandeza, mas possuem elementos comuns como o torii, as piscinas para a purificação, as salas para os sacerdotes e os peregrinos e as lanternas de pedra. Os torii, construídos em madeira, pedra ou bronze, formam o portal colocado no ingresso do templo. Parece que, originalmente, eram destinados a acolher em sua viga superior os galos, animais sagrados para a deusa Amaterasu. As cerimônias nos templos são de vários tipos e dedicadas a todos os aspectos e acontecimentos da vida humana, como a purificação, o nascimento, o casamento, a saúde, as colheitas e as celebrações das estações durante o ano. O futuro do xintoísmo Devido às grande mudanças sócio-econômicas ocorridas na sociedade japonesa moderna, alguns estudiosos da religião acham que o xintoísmo não terá futuro a não ser que mude de maneira bastante radical. Entre as mudanças, foram sugeridas as seguintes:

  • reduzir e simplificar a própria mitologia;

  • rever sua presença no campo social e

  • abrir-se a outros povos, perdendo assim sua característica fundamentalmente japonesa.

  • O Aikido foi criado baseado nos fundamentos espirituais do xintoísmo, de certa forma através do Takemussu Aiki ensinar a essência do xintó bem como de todas as religiões



Um pouco de Mitologia Xintoísta:

MITOLOGIA DO JAPÃO


Deus criou IZANAGI (pronuncia-se Izanagui) e IZANAMI. Izanagi significa o homem convidado e Izanami a mulher convidada. Na história bíblica seria: Deus criou Adão e Eva. Deus no Japão significa Deus Xinto que daí desenvolveu-se o xintoísmo, a religião originária do Japão. Deus Xinto enviou os filhos Izanagi e Izanami à terra como seu representante. Diz a mitologia que Deus Xinto colocou-os numa ponte para que eles caminhassem em direção à “terra” que hoje é chamado Japão. Quando eles chegaram à “terra”, o Japão ainda era apenas uma ilha coagulada que se chamava ONO-KORO. Deuses Izanagi e Izanami se casam para formar seus descendentes. Nessa época, inicia-se Kunibiki, a junção de várias outras pequenas ilhas até chegar as quatro atuais: Hokkaidou, Honshuu, Shikoku e Kyuushuu. O Japão é batizado de YAMATO, A Grande Paz. Eles tiveram 3 filhos: A primeira filha, AMATERASU OOMI KAMI que significa a deusa xinto do sol. O segundo filho, TSUKI YOMI NO MIKOTO que significa o deus xinto da lua. O terceiro filho, SUSANO O NO MIKOTO que significa o deus xinto do trovão. Segundo a mitologia japonesa, a primeira filha AMATERASU OOMI KAMI é a que descende a família imperial do Japão. E o primeiro filho dessa deusa é o primeiro imperador do Japão, JIN MU TENNOU que significa O Passo do Deus Xinto quem governou o Japão de 660 AC até 585 AC. Para termos uma idéia concreta, o atual imperador Akihito do Japão é o 125º imperador que descende diretamente da deusa AMATERASU OOMI KAMI, cujo filho JIN MU TENNOU é o primeiro imperador. Então, AMATERASU OOMI KAMI, a deusa do sol, sendo a primeira filha de Deus Xinto recebe a posse para tomar conta do arrozal, daí até hoje o alimento mais sagrado é o arroz no Japão. Ela não se dá bem com o terceiro irmão SUSANO O NO MIKOTO, o deus do Trovão, mas pelo contrário se dá muito bem com o segundo irmão TSUKI YOMI NO MIKOTO, o deus da Lua. Certo dia, a deusa AMATERASU OOMI KAMI teve desentendimento com o irmão SUSANO O NO MIKOTO por ele ter danificado suas plantações de arroz. Ela ficou tão furiosa e triste que se fechou numa caverna. O Japão todo escureceu, pois ela era a deusa do sol. Fora da caverna outros deuses fizeram de tudo para que ela abrisse a porta da claridade, mas foi em vão. Então, o segundo irmão, TSUKI YOMI NO MIKOTO resolveu simular uma grande festa dos xintoístas, usando espelhos para dar reflexos e utilizou galhos de SAKAKI para dar o rítmo à cerimônia. Ele convidou a deusa da chuva AME NO UZUME para bailar. Fazendo uma pequena pausa, SAKAKI é uma árvore da família da japoneira templária, cleyera japônica que é muito plantada junto aos templos. A palavra SAKAKI escreve-se em um só ideograma e significa “a árvore de Deus”. Até a presente data, o seu galho é freqüentemente utilizado tanto como oferenda quanto como para purificação. Uma das relíquias da família imperial até hoje, é o espelho. E na cerimônia de culto dos xintoístas, utiliza-se o galho de SAKAKI para dar a benção aos seguidores e também para espantar os astrais negativos. Assim, a festa começou em frente à caverna. A deusa AMATERASU ouvindo todo aquele barulho estrondoso de tambores, ficou muito curiosa e abriu um pouquinho a porta da caverna para ver o que estava se passando lá fora. Imediatamente o deus TSUKI YOMINO MIKOTO e demais deuses auxiliares puxaram a porta da caverna. Depois desse acontecimento, o Japão sempre teve seu brilho. O irmão SUSANO NO MIKOTO foi punido pela irmã AMATERASU e foi mandado para província de Izumo onde havia só terra coagulada e que ele tinha de construir uma nova cidade. Diz a lenda que o deus SUSANO era um homem cabeludo com barba comprida, daí talvez os nativos AINU fossem descendentes dele. Deus SUSANO era muito valente que um dia quando na sua cidade de Izumo apareceu um dragão com 8 cabeças, engolindo moças e rapazes, ele resolve acabar com ele, dando-lhe 8 tambores de sake para o dragão ficar bêbado. Quando o dragão já está num estado sonolento, o deus SUSANO avança em cima do dragão e retira-se do estômago, jóias preciosas, moças e rapazes; do rabo do dragão o deus SUSANO retira uma espada também. A segunda relíquia da família imperial até hoje é essa espada e a terceira é uma dessas jóias. Portanto, são 3 as relíquias que são mostradas na cerimônia oficial da família imperial: O ESPELHO que representa o sol, a bandeira nacional, a capacidade de olhar para si. A ESPADA que representa a origem do bushidou, SAMURAIS para trazer a justiça JÓIA que representa a riqueza do país e a união entre todos. A deusa AMATERASU e o segundo irmão, TSUKI YOMI NO MIKOTO, migraram-se para Kyuushuu, a quarta ilha do atual Japão. Nessa região eles estabeleceram YAMATO, antigo nome que se dá ao Japão. Nesse YAMATO (A Grande Paz) estabeleceu-se o primeiro imperador JIN MU TENNOU.

Origens do Céu e da Terra

No mais antigo dos tempos, o céu e a terra estavam grudados, como se tivessem sido unidos, ao longo dos séculos, em uma matéria informe. Repentinamente, o silêncio que imperava foi quebrado, com sons estranhos, cuja origem era o movimento das partículas. Assim, a luz e as partículas mais céleres se elevaram, mas nem todas puderam seguir a luz em sua ascensão. Dessa forma, a luz acumulou-se na parte superior do universo, e abaixo dela as partículas formaram em primeiro lugar as nuvens, depois um paraíso chamado de Takamagahara (fenda do alto firmamento). E muito abaixo as partículas permaneciam em uma massa informe, que foi chamada de terra. Naqueles tempos, em que nasceram o céu e na terra, surgiram divindades em Takamagahara. Eram chamados: Ame-no-mi-naka-nushi-no-Kami (Senhor do esplêndido Centro do Céu), Taka-mi-musushi-no-Kami (Divindade da Esplêndida Energia Vital), e Kami-musushi-no-Kami (Deus da Energia Vital). Todas essas três divindades formadas espontaneamente se ocultaram. De outro lado, enquanto o mundo movia-se como uma medusa, surgiu algo parecido com um broto de bambu: Umashi-ashi-kabi-hikoji-no-kami (Antigo Príncipe do encantado broto de Bambu) e Ame-no-toko-tachi-no-kami (o que se mantêm eternamente no céu). Estas duas divindades, apesar de formadas espontaneamente, também vieram a ocultar-se. Com as outras três mencionadas, formam as "Divindades Celestiais Independente" primordiais. As sete gerações divinas

Os nomes das divindades que se formaram em seguida foram: Kuni-no-toko-tachi-no-kami (o que permanece eternamente sobre a terra) e Toyo-kumo-un-no-kami (Senhor Justo). Estas divindades também se ocultaram. Em seguida, vieram a se formar U-hiji-ni (Senhor do limo da terra), e logo sua irmã-esposa, a deusa Su-hiji-ni (Senhora do limo da terra); logo o deus Tsunu-guhi (O que integra as origens), e sua irmã-esposa Iku-guhi (A que integra a vida); e o par seguinte, o deus Ô-to-no-ji (O ancestral da grande região), e sua irmã e consorte Ô-to-no-be (A ancestral da grande região); logo o Deus Omo-Daru (O perfeitamente formoso) e sua jovem irmã-esposa, a deusa Aya-kashiko-ne (a venerável). E o par O Venerável Izanagi-no-Miko (O primeiro homem, o grande varão) e sua jovem irmã e consorte A Venerável Izanami-no-Mikoto (A grande mulher, a primeira mulher). Esses deuses, desde Kuni-no-koto-tachi, até a Venerável Izanami-no-mikoto são conjuntamente chamadas de sete gerações divinas. A criação do Arquipélago e o par primordial

Então os deuses se reuniram e deliberaram longamente sobre a terra, que continuava sendo a mera mescla de águas e terras, informe e plana. Decidiram por enviar um par deles para organizar a terra, e assim O Venerável Izanagi e a Venerável Izanami receberam um Grande Mandamento, que dizia: "Regulai e consolidai a terra em movimento". Assim ordenando, foi a eles confiada a ordem e a lança celestial, Ama-no-Nukobo, que estava coberta de pedras preciosas; então as divindades, estando sobre a ponte flutuante do céu - talvez um arco-íris - desceram a lança lentamente, e, girando-a, coalharam a água salgada, quando subiram a lança havia uma ilha, que foi chamada de Onogoro (espontaneamente coagulada). Descendo, então, do céu, e indo para a ilha, em pouco tempo erigiram um Sagrado Altar, Yashidono, uma Sacra Coluna, Ama-no-mi-hashira, o Sagrado Pilar do Céu, e um Salão Santo, com oito braças. Então questionou o Venerável Izanagi a sua irmã: "De que modo formou-se seu corpo?", ao que ela respondeu: meu corpo está completamente formado, mas há uma parte que não cresceu e está selada. E disse o Venerável Izanagi: "Também o meu corpo está totalmente formado, mas há uma parte que cresceu em excesso. Logo, se inserirmos a parte que me cresceu em demasia e criaremos terras”."Que solução melhor do que procriar?" A Venerável Izanami retorquiu: "Certamente está bem assim”.E O Venerável Izanagi disse: "Andemos em volta dessa Sagrada Coluna Celeste, e quando encontramo-nos do outro lado, haveremos de nos unir”. Assim falaram, e entraram em acordo. Ele disse: "Tu para me encontrar, deves ir pela direita; eu, para encontrar-te, irei pela esquerda". Quando deram a volta, tal como tinha combinado, a Venerável Izanami foi a primeira a exclamar: "oh, na verdade tu és um jovem belo e amável!” E logo o Venerável Izanagi "Oh, mas que jovem bela e amável!". E depois de falarem, ele disse a sua companheira: "Não está bem que seja a mulher a primeiro falar”. Não obstante, uniu-se em um leito e tiveram um filho, Hiru-ko, (menino sanguessuga). Eles o depositaram em uma canoa de juncos, para que a correnteza o levasse, pois era grotesco. Depois, nasceu Awa Shima, a ilha da espuma, que sequer contaram como descendente. Disse O Venerável Izanagi: "Os filhos que até esse momento nos tivemos não são bons. Devemos subir ao céu, e questionou as grandes divindades o motivo do acontecimento. Essas disseram, reunidas em Grande Oráculo:” Como a mulher falou primeiro, as coisas não vão bem.”Então eles partiram de novo, e na Sagrada Coluna do Céu repetiram o processo anterior, mas dessa vez foi O Venerável Izanagi a falar primeiro. De sua união, nasceu à ilha de Awaji, o caminho da espuma”. Da mesma maneira, as demais ilhas do arquipélago, Honshu, Shikoku, Kyushu, as ilhas gêmeas de Oki e Sado, e, finalmente, a ilha de Iki. Logo também conceberam uma série de deuses e deusas, entre os quais os do vento, das montanhas, e das árvores. Morte de A Venerável Izanami e a ida de O Venerável Izanagi ao país dos mortos

Por uma desgraça, Kagutsuchi, o deus do fogo - também chamado de Homusubi -, o filho caçula de Izami, ao nascer, vitimou sua mãe com terríveis queimaduras e, seus genitais, e ficou enferma, vindo a morrer te terríveis febres. Apesar disso, A Venerável Izanami seguiu dando origem a outras divindades em plena agonia, nas fezes, na urina e no vômito; a última a nascer foi Mizuhame-no-mikoto, que marca o surgimento da dor e da morte no mundo. O Venerável Izanagi, desesperado, geme em volta do cadáver, e de suas lágrimas nascem outras divindades, entre eles a deusa do Arroio Aflito. Nesse momento, a tristeza de O Venerável Izanagi converte-se em uma cólera fria, e ele mata o deus do fogo, despedaçando o seu corpo, pela culpa que tinha na morte de sua mãe, a amada esposa de O Venerável Izanagi. O sangue e os membros do matricida consertem-se em uma série de novos deuses, que simbolizam várias montanhas. Então, O Venerável Izanagi desce ao País das Trevas, em busca de A Venerável Izanami. O Venerável Izanagi, desejando ver sua jovem esposa A Venerável Izanami, seguiu-a até Yomi-tsu-kuni, o país das trevas, e quando ela vem abrir a porta do palácio, saindo para encontrar com seu esposo, O Venerável Izanagi, que disse: - Oh, minha esposa, jovem e encantadora irmã! Os países que criamos ainda não estão concluídos! É preciso que retorne! Mas a sua esposa e irmãs respondeu: "é triste que não tenha vindo antes, pois já comi do fruto do País das Trevas! Sem dúvida, oh meu encantador marido e irmão mais velho, que eu gostaria de voltar, e vou consultar-me com as divindades do País das Trevas. De modo algum deve me ver!" - E assim dizendo entrou no palácio. Com o tempo, O Venerável Izanagi cansou-se de esperar, e foi em busca de sua esposa; e entrou no país, apenas para descobrir que sua esposa, A Venerável Izanami, era agora um cadáver putrefato, coberto de vermes. Estava dando a luz aos oito deuses do trovão. Então, quando O Venerável Izanagi, aterrorizado com esta visão, corria, sua jovem irmã gritou-lhe: Cobriu-me de vergonha - e ordenou que as terríveis mulheres do país das trevas perseguissem seu esposo. De modo que, O Venerável Izanagi, tomando nas mão uma grinalda da flor kazura, que estava em seus cabelos, jogou-a ao chão, e ela converteu-se em um ramo de uvas silvestres. Enquanto elas comiam, ele desatou a correr, mas elas seguiam na perseguição. Por isso, jogou ao chão um pente que prendia seus cabelos, e dele nasceram brotos de bambu, que as horrendas mulheres voltaram a comer, e ele corria. Vendo essa situação, A Venerável Izanami lançou contra seu irmão os oitos deuses do trovão, e mil e quinhentos guerreiros. Todos levavam espadas com dez palmos de altura, e teriam matado A Venerável Izanami se ele não corresse com ainda maior velocidade. Estavam quase alcançando O Venerável Izanagi quando ele chegou a Yomi-no-horakaza, um declive que desce desde a terra dos vivos, até a terra dos mortos, onde há uma árvore. Dela O Venerável Izanagi tomou três pêssegos, com os quais golpeou os inimigos e os matou. Disse o venerável O Venerável Izanagi, solenemente, aos pêssegos: "Do mesmo modo que me socorreram, irão de socorrer todos os que moram na Planície dos Juncos”.Depois de pronunciar essas palavras, deu ao fruto o título de "Venerável Fruto Divino". Por fim, sua jovem irmã, A Venerável Izanami, lançou-se, pessoalmente, em sua perseguição. Ao que ele ergueu uma rocha que mil homens não poderiam ter a esperança de sequer arrastar, e bloqueou o declive entre o mundo dos vivos e dos mortos, separando para sempre a vida da morte; e lá disseram adeus. Falou a venerável A Venerável Izanami: "oh, meu amado e encantador irmão mais velho, se ti comportas assim, estrangularei e trarei para este país, eu apenas um dia, um milhar de homens de sua terra!" Ao que retrucou o venerável O Venerável Izanagi: "oh, minha amada e encantadora irmã menor, se o fizer, erguerei, num só dia, cinco mil casas de parto. Assim, num só dia, um milhar de homens morrerá; mas mil e quinhentos irão nascer!”. Por esse motivo, a venerável A Venerável Izanami é chamada de Grande Divindade do País das Trevas, e como ela perseguiu e alcançou, é também chamada de grande divindade que chega a rota. A rocha que bloqueou as duas terras é chamada de Grande Divindade que bloqueia a porta do país das trevas; e o declive que ligava os dois mundos é chamado de Declive de Ifuya, no país de Izumo. O Venerável Izanagi e a última geração

Depois de escapar dos horrores da terra dos mortos, O Venerável Izanagi teve de limpar-se da imundice e impurezas que o sujavam, e o faz com um banho. Chegou a um riacho em Hyuga, a leste de Kyushu, chamado de Tachibana-no-Odo, e despe-se, banhando-se nas águas. DAQUI A ORIGEM DO MISOGI descrito no Aikido e também nas cerimônias xintoístas.De seu cajado, das diversas partes de seu traje, de seus braceletes, nascem doze divindades; e outras mais nas diversas partes de seu banho. Mas foi quando ele limpou seu rosto que as principais divindades do Xintoísmo vieram a nascer: do olho esquerdo, a deusa suprema do xintoísmo, Amaterasu-no-Mikoto, Venerável divindade do sol; do olho esquerdo, Tsuki-Yomi-no-Mikoto, o Venerável deus da Lua; e de sue nariz, Take-Haya-Susano-no-Mikoto, O Augusto, venerável e célere, irado e valente. A essas três divindades - o último dos quais converteu-se em deus da tempestade - foram investidos, por O Venerável Izanagi, como governantes do universo. A investidura das três deiades

Nesse instante, o Venerável Izanagi se ergueu de forma altiva e disse: “Eu, dando origem filho após filho só na última geração obtive resultados louváveis. Logo depois, sacudindo a gargantilha de jóias que formava seu colar, cedeu-o a sua filha, Amaterasu-no-mikoto, dizendo”: "Que tu governe a planície dos altos céus". E este colar era chamado de deus da tabela da grande câmara dos tesouros. A Tsuki-yomi-no-mikoto: "Que sua venerável pessoa governe o reino da noite". E assim, a ele foi outorgado esse cargo. Por sim, disse a Susano-No-mikoto: Que sua venerável pessoa governe as planícies das águas. Amaterasu e Tsuki-Yomi aceitaram suas tarefas de forma obediente, tomando posse de seus respectivos domínios. Susano, no então, põe-se a chorar, e lamentar e gritar. Seu pai, Izanagi, pergunta o que há de errado, e Susano responde que não deseja governar as águas, mas sim a terra onde viveu sua mãe, a Venerável Izanami. Irado, Izanagi desterra seu filho e se retira, tendo findado a sua missão. Conta-se que viveu No "palácio do sol mais jovem", ou que estaria enterrado em Taga. Enquanto isso, Susano ergueu-se, após se despedir de sua irmã Amaterasu, aos céus em grande fúria, espalhando confusão por toda a natureza. O desafio das deiades irmãs:

Então, Amaterasu, alarmada por esse alvoroço, disse: "A razão pela qual ele ascendeu dessa forma não procede com um bom coração. Certamente quererá arrebatar meu reino. Ao mesmo tempo, enrolou um cordão cheio de magatama, de oito pés de altura, e com quinhentas jóias, nos esquerdo e direito, como também em seu toucado e igualmente em seu braço esquerdo e direito. Em suas espáduas, duas aljavas, uma com mil flechas, e outra com quinhentas. Brandiu sua espada e susteve seu arco, cuja parte superior tremia. Depois, batendo com o pé, ergue-se até o céu e postaram-se, pernas abertas como um homem, à frente. E disse, com altivez:” porque subiu até aqui?”“. O que parece é que vai ocorrer uma grande batalha. Susano não olvida em garantir a sua irmã que não tem intenções más, e por isso propõe-se a realizar um juramento. O texto não é muito claro, mas parece indicar que susano propõe, em seu juramento, um acordo: um concurso de reprodução, segundo o qual aquele que engredar mais divindades masculinas, o bem o que engredasse mais divindades. Se Susano vencesse sua irmã deveria admitir a pureza de suas intenções. As divindades, separadas por Amanogawa, (o rio do céu) trocaram as palavras de compromisso e iniciaram a competição. Para começar, Amaterasu pediu a seu irmão a espada; quebrou-a em três fragmentos e deles criou três belas deusas. Por sua vez, Susano pegou as grandes fileiras da Magatama de Amaterasu levava em volta dos ombros, e da jóia criou cinco deuses, inclusive Oshi-Omini. Amaterasu, logo, expressa sua vontade de estabelecer quais dos deuses, segundo a sua origem, eram filhos de uns e outros. Susano se proclama vencedor, com cinco. Mas Amaterasu indica que os varões de Susano deveriam ser considerados como seus, pois foram criados com seus pertences! Logo, era ela a vencedora. Susano, naturalmente, nega-se a aceitar essa decisão, e, furioso, desencadeia mil catástrofes. As devastações de Susano

Então Susano espalhou o caos sobre o mundo, e atacou as obras de sua irmã: destruiu a divisão entre os arrozais divinos, obstruiu os canais, e, ademais, verteu sobre o palácio de sua irmã nojentas secreções, bem na sala em que ela degustava o Venerável Alimento. E apesar desse comportamento, Amaterasu apenas disse: “isto, que parecem ser excrementos, deve ser algo que meu venerável irmão maior vomitou em sua embriaguez. E Susano prosseguiu, violento ao extremo”. Quando estava Amaterasu sentada em sua sala, usando seu sacro tear, Susano perfurou o teto, e por ele fez escorregar para a sala um corcel celestial. Vendo o animal, as fiandeiras que a ajudavam ficaram chocadas, e enterraram fundo em seus corpos as lançadeiras; Amaterasu ficou tão chocada que se escondeu, cerrando a porta de Ama-no-iwato, a caverna das rocas celestiais, e recusou-se a sair. A crise divina

Imediatamente, Takamagahara estava desaparecida na mais completa obscuridade, e o mesmo veio a ocorrer com o país central da planície dos juncos, e por causa disso, reinou a noite eterna. Ali, no alto, com o ruído de dez mil deuses inquietos, dez mil calamidades surgiram simultaneamente. Por isso, as divindades se reuniram em uma assembléia divina, no leito seco de Amanogawa para discutir uma forma de Amaterasu retirar-se da caverna. O sábio deus Omoi-kane-no-kami, o que acumula pensamento, filho de uma das divindades primordiais, Taka-mi-musushi, propôs uma solução: reuniram as aves que cantavam ao fim da noite e as fizeram cantar. Como dali não sobreveio solução, concebeu um complicado estratagema: tomaram duas rochas do rio Amagonawa, e ferro das celestes montanhas de metal, e convocaram o ferreiro Ama-tsu-ma-ra; encarregaram o venerável Ihi-kore-dome que fabricasse, desses materiais, um espelho; encarregaram o venerável Tama-no-ya que fabricasse um colar de jóias com quinhentas magatama a uma altura de oito pés; mandaram chamar o venerável Ameno-koyane, e o venerável Futo-tama, e ordenaram-lhes arrancar as omoplatas de um gamo do celeste monte Kagu, e extrair a cortiça das árvores do celeste monte Kagu, para praticar um adivinharão; arrancaram a raiz da árvore sakaki do mesmo monte, e colocaram nos ramos superiores os colares de quinhentas magatama, sobre os ramos intermediários o espelho de oito pés, e sobre os inferiores sedosas oferendas nas cores brancas e azuis. O venerável Futo-Tama tomou e guardou tudo aquilo com grandes oferendas, e o augusto Ame-no-koyame pronunciou com ardor algumas palavras rituais, enquanto o deus Ama-no-tachikara-wo (Varão de fortes mãos) mantinha-se oculto próximo à porta de Ama-no-Iwato; então, a deusa. Ame-no-uzume (mulher terrível do céu) fez uma grinalda de flores para sua cabeça, e de algumas folhas de bambus anões do monte Kagu fez um ramalhete para suas mãos, subiu sobre um tambor, e desatou a pisar, até que ele retumbasse; e como se possuída, deixou seus seios a mostra, logo depois deixando cordão de sua faixa a deslizar pela cintura. Então, todos os deuses riram ao mesmo tempo, e Takamagahara tremeu. Ao escutar, surpresa, Amaterasu vai abrir a porta, e diz: "pensei que, devido ao meu retiro, Takamagahara quedaria em escuridão, e o país da Planície dos juncos estaria, também, obscurecido. Como é possível, então, que Uzume se regozije e que, ademais, essa miríade de deuses riam?" Uzume retrucou, então: "Estamos alegre e nos regozijamos porque a uma divindade mais brilhante do que Sua Venerável Pessoa”. Enquanto ela falava dessa maneira, Ame-no-koyane e Furo-tama dirigiram o espelho para a porta que jazia entreaberta, e Amaterasu, surpresa com o que ocorria, saiu um pouco, e enquanto mirava-se intensamente no espelho, quedou deslumbrada, por um instante. Ama-no-tachikara-wo, que permanecia oculto tomou-a pela mão e obrigou-a a sair; então, Futo-tama pegou uma corda de fibra de arroz e colocou as costas de Amaterasu, dizendo "não retroceda desse ponto!" E assim, quando Amaterasu saiu, Takamagahara e o Pais Central da Planície dos Juncos voltaram a ser iluminados com seu brilho, e retornaram a normalidade; Uma vez fora da cova, Amaterasu concedeu em voltar ao seu palácio, se Susano fosse desterrado. A expulsão de Susano

Ali no alto, os deuses, reunidos em conselho, impuseram a Susano um castigo que consitia em entregar mil tabuas de oferendas, e depois disso, cortaram a barba, arrancaram as unhas dos dedos das mãos e dos pés, e mediante um divino mandato o expulsaram. Assim perseguido, Susano buscou ajuda com a deusa Ogetsu-hime-no-kami, deusa dos alimentos, que saca da boca, do nariz, e do reto todo o tipo de comidas estranhas para oferecer. Indignado pelo insulto, Susano mata a deusa, mas a morte tem efeitos benéficos; do cadáver da vítima nascem os "cinco cereais", isto é, os alimentos básicos que seguem dando subsistência aos japoneses até hoje: de seus olhos, nasceram sementes de arroz, de suas orelhas, milho, de seus genitais, trigo, de seu nariz feijões e de seu reto, soja. O deus Kami-musubi mandou recolher e semear estas sementes, para o bem dos mortais.


O Santuário Xintoísta

O conceito de Kami Tradução: Mauro Salgueiro – Yamato Dojo(Takemussu Aiki) - RJ


Para entender o conceito de Kami, é importante retirar a pré-concepção causada pela palavra Deus, que geralmente é usada para Kami. No Xintoísmo não se crê que um só Deus é o criador tanto da natureza como dos seres humanos. Os antepassados japoneses nunca distinguiram a existência material da espiritual, mas são considerados inseparáveis, onde tudo é visto como espiritual. Em outras palavras, não traçavam uma linha divisória entre criador e criatura. De acordo com o Xintoísmo, existia apenas uma coisa desde o início do Universo que mais tarde foi dividida em duas: O Céu e a Terra. Do céu, o Kami surge em forma de um casal (homem e mulher) que dá a luz a vários kamis: a terra do Japão e sua natureza, bem como o povo. A fé Xintoísta começa com a crença nessa mitologia. Em conseqüência disso o Xintoísmo não admite a substancial diferença ou descontinuidade entre o Kami e o homem, natureza e os seres humanos. Pode se afirmar que o Xintoísmo é basicamente a crença no poder da criação. Contudo, o Xintoísmo não é um panteísmo, doutrina segundo a qual só Deus é real e o mundo é um conjunto de manifestações ou emanações de sua vontade. Se for necessária uma definição, deve-se levar em conta da opinião de Motoori Norinaga, sábio do século XVIII, que agora é totalmente aceita. Ele cita: “Tudo o que pareça surpreendentemente comovente, dotado de uma qualidade de excelência e virtude, inspirado no sentimento de admiração, é chamado de Kami.” Aqui a “qualidade em excelência” significa um imenso poder que origina grande influência em várias coisas. Isto é, está além do poder humano e o realizado por ele. Que pode tanto trazer boa sorte e felicidade, mas ao mesmo tempo infortúnio e maldade também. Por outro lado, tanto para os elementos naturais (fenômenos) e o homem são dados a possibilidade de se tornarem Kamis, pois tanto a terra e o povo Japonês são filhos nascidos do Kami. Todavia eles não são Kamis por si mesmos. O princípio do Politeísmo (que consiste na crença em mais do que uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma é considerada uma entidade) é refletido aqui como a única coisa que têm grande influência na vida humana e poderia ser um Kami. Por exemplo, relatando fenômenos naturais: o Kami da Chuva, o Kami do Vento, o Kami das Montanhas, o Kami dos Mares, o Kami dos Rios, o Kami dos Trovões todos são venerados. Esses objetos de adoração são limitados àqueles que são associados e que tenham influências na vida humana. No caso de seres humanos, todas as pessoas são veneradas após sua morte em suas casas como um Kami ancestral. Porém, os espíritos que são santificados após sua morte, ficam limitados aos que deram grande contribuição para a comunidade ou Estado, já as pessoas santificadas durante sua vida são limitadas àquelas que possuem imensa força espiritual sobre a vida humana. Teólogos ocidentais possuem enormes respeito ao “Culto à Natureza” que é a atitude humana de admiração ao poder místico da natureza. Contudo, o Xintoísmo não personifica nem diviniza a natureza por si mesma, que é a existência física que trabalha de acordo com seu próprio sistema. O Xintoísmo considera que as pessoas sentem admiração a alguns elementos naturais que possuem grande influência na vida humana, e veneram sua espiritualidade e oram para suas bênçãos. No caso dos animais, seus espíritos são chamados de “mono”, um outro tipo de espírito. Estes são considerados (às vezes) nocivos aos seres humanos, que então realizam cerimônias religiosas a fim de confortar o espírito destes animais. Essa crença ainda é observada nos dias de hoje. Em cursos de Medicina de algumas Universidades, por exemplo, cerimônias de Xintoísmo e Budismo são realizadas para confortar os espíritos dos animais, que são mortos por motivos experimentais. Existem outros casos de realização de cerimônias, como que para confortar os espíritos de alguns utensílios que são feitos e utilizados pelo homem no seu dia-a-dia como: agulhas, facas, sapatos; ou até para purificar os prédios antes da inauguração, incluindo também estações nucleares ou fábricas de computadores, desejando que o trabalho elaborado e as produções envolvidas sejam realizadas de maneira apropriadas e seguras. A mesma atitude é aplicada ao Shinrei (espíritos divinos). As pessoas tanto veneram os espíritos divinos que tenham grande influência em suas vidas, como também ao espírito que traz maldade para os seres humanos, chamado “Magatsuhi Kami”, admirado igualmente como Kami. De acordo com o Xintoísmo, os Kamis geralmente ficam irritados e trazem algum infortúnio para a população embora usualmente os protejam e abençoam. Também é muito importante praticar a fé realizando cerimônias para eles. É necessário chamar a atenção para o fato de o Xintoísmo ser de ordem Politeísta, para que assim entendamos o conceito de Kami. Ao mesmo tempo é profícuo alterar a pergunta acerca do conceito de Kami para a do sistema de valorização Japonês, então podemos ser capazes de evitar um desnecessário equívoco. No caso de Monoteísmo, que venera um Deus absoluto, parece que o conceito da verdade absoluta é dominante. Se há algum conflito entre duas pessoas ou grupos, um é considerado certo e outro errado e inverídico. Por outro lado, o Politeísmo que é baseado no pluralismo, não considera a existência de uma verdade absoluta e também há uma diferença distinta entre os dois. Se há duas coisas que se contradigam ou cause um conflito, ambos estão certos e errados ao mesmo tempo. Qualquer discórdia ou disputa não são julgadas por um único valor como orientação. Como resultado, ambos os lados serão castigados igualmente. Também se pode dizer que as pessoas que acreditam na verdade absoluta tendem a pensar que a coexistência é possível apenas entre todos que partilham do mesmo valor. Já com base no Pluralismo, por outro lado, consideram que a coexistência é possível até entre pessoas que tenham opiniões ou ideias diferentes, pois cada um tem sua convicção individual, então hão de se respeitar mutuamente. É a coexistência pela harmonia. O Xintoísmo é baseado no Pluralismo que segue múltiplas orientações, pode-se dizer que, neste caso, os Japoneses aceitaram as religiões estrangeiras, como os conceitos de Budismo, Confucionismo e o Yin-Yang, pois sempre beiraram essa pluralidade. De fato a mitologia Xintoísta não menciona acerca do Kami Onisciente e Onipresente. Como exemplo disso, relatam que o Kami que deu à luz a essa terra falhou num primeiro momento, então solicitaram à outro Kami no Céu para lhes mostrar o caminho certo. Então do céu este Kami respondeu que deveriam procurar a resposta praticando a divinação. Outro exemplo é que mesmo o Kami supremo, Amaterasu Ohmikami, uma vez falhou ao julgar interiormente seu irmão. Em outro caso o Kami chamado Kuebiko que acreditava ter um excepcional poder (como sempre saber o que acontecia no mundo) mas não conseguia andar , pois não tinha uma perna. Ou seja, de acordo com o Xintoísmo, não há um Kami que não tenha defeito.

fonte: http://www.aikikai.org.br/site.php?pagina=Xintoismo.html

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